Miriam
Rocha
25 de abril de 2012. Faz quase um mês que mamãe está aqui
na minha casa em Natal. Bem cedo, de manhã, já estava anunciando sua última
viagem. Prostrada na cama como acontecia há meses, falou na hora do banho: - “hoje
vou embora”. Retruquei: - “só se botar umas asas, meu coração”. E não falou mais nada. Passou o dia com
sinais de piora. As enfermeiras, uma do dia e outra da noite, prestando atenção
a tudo. Pelas onze horas da noite, fui pedir sua benção como costumava fazer
desde que me entendo como gente e dizendo: "bênção mãe". E ela
respondeu de forma suave e bem devagar: - “Deus te faça feliz, minha
filha". Dei lhe um beijo, em seguida falei à enfermeira que me chamasse
imediatamente ao verificar qualquer irregularidade. Fui a meu quarto para
dormir. Às duas horas, minha filha Carmelita Paula já acordada pela enfermeira,
me chamou dizendo: - "mãe, venha ver vovó". No mesmo momento me dei
conta da triste realidade. A dor que senti foi tão intensa que me curvei até
ela e fiquei olhando fixamente, como que hipnotizada, aquela imagem de paz
total que refletia em seu semblante marcado pela idade. No próximo mês de julho
completaria 99 anos de idade. Senti uma paz divina. Então chamei pelo nome que
se costuma usar quando a gente passa por uma dor muito forte, não imaginável: -
“Meu Jesus, mamãe minha querida, foi embora".
Voltei a ser criança. Vieram- me todos os medos, todas
as angústias do tempo de quando era pequena. Ficava com medo de ficar sem minha
mãe. Agora fiquei minutos em atitudes de ser a mãe de minha mãe, pois tinha que
me lembrar de tudo que ela me tinha recomendado fazer na hora de sua morte.
Então eu não podia esquecer nada. E agora acho que fiz tudo direitinho como me
foi recomendado. Tenho a impressão que minha mãe sempre alimentava a certeza de
que seria eu a estar com ela na hora de sua morte.
A gente sempre sabe que presentes são portadores de
alegrias. A gente dá presentes a quem ama. Acredito que o Todo Poderoso me ama
muito por ter me dado a graça de ser filha de Maria Carmelita, mensageira do
amor com a qual convivi 60 anos. Por isso agradeço a vós meu Deus Pai, ter
podido assistir sua partida.
Mamãe nunca semeou espinhos em sua vida. Poderia
alguém se ferir. A força de sua vida sempre foi a fé. Passava horas rezando por
todos os filhos, netos e bisnetos. Preferia rezar pela manhã e à tarde diante
da gruta do Sagrado Coração de Jesus, erguida no jardim de sua residência na
Fazenda Lajes em Patu. Às vezes me convidava para rezar com ela a Ladainha. Então
eu dava um jeito de rezar com ela o Ofício de Nossa Senhora, que eu acho mais
bonito e desde pequena sei de cor, do jeito que ela me ensinou. Ela era meu
bibelô e minha estrela guia, pois com seus ensinamentos sempre me orientou para
a realização do bem. Que estas orientações fiquem na minha alma, no meu coração
e nas minhas ações diante da vida, como se fosse uma tatuagem para a qual eu
olhe e me dá coragem de seguir a viagem em meio ao medo da noite em que o adeus
se torna inevitável. Hoje tenho certeza, que quase tudo que tenho de bom em mim,
devo a ela e a meu pai De momento estou sentindo uma dor muito grande, mesmo
sabendo que há festa no céu, pois os anjos vieram buscá-la. Já na tarde de sua
partida minha neta Lara de um ano, num comportamento estranho, parecia avistar
anjos em torno de minha mãe. Seria um pressentimento?
Quero agora falar dos gestos maravilhosos de carinho,
de respeito e de amor demonstrados pelos amigos no velório que houve em Natal e
em Patu, mormente durante a cerimônia do sepultamento. Seu corpo entrou na
igreja, acompanhado pelas crianças dos colégios, principalmente do Grupo
Escolar João Godeiro onde em tempos idos foi professora e diretora. Também
prestaram homenagem, as senhoras do Apostolado da Oração, onde vários anos
exerceu a função de secretária. Em cerimônia especial, a presidente lhe
recolocou a fita de associada. Fiquei muito emocionada por tantas palavras
bonitas proferidas. E tudo ficou mais solene com a presença da Banda Municipal.
A todas as pessoas queridas que se fizeram presentes nestas horas de dor, quero
expressar minha profunda gratidão em nome da Família Oliveira Rocha e da
família de sua irmã Erotides Morais e da família de José Morais.
Com certeza, as imagens que visualizamos foram de
emoção e de uma beleza ímpar. Maria Carmelita de Morais Rocha, sua vida valeu a
pena. Meu Deus, muito obrigada pela vida que lhe concedeu. Aquela que em vida
viveu praticando o bem, fique sempre na recordação, em minha alma e em meu
coração. Mamãe, te peço, roga a Deus por todos nós.
Veja a materia no blog de Aluisio Dutra sobre um infeliz discurso do tal Dr. Ednardo.
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